TOC tem cura? O que a ciência diz
- Michelli Cameoka

- 1 de nov.
- 4 min de leitura

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é uma condição psicológica que afeta milhões de pessoas no mundo todo, ainda mais quando consideramos os chamados sintomas subclínicos, aqueles que geram sofrimento mas não chegam a ser suficientes para configurar um diagnóstico formal. Mas, afinal, TOC tem cura?
Essa é uma pergunta que muitos clientes fazem logo nas primeiras sessões, movidos pelo desejo legítimo de alívio, controle e esperança. A resposta, no entanto, exige mais do que um “sim” ou “não”. Requer compreensão do que o TOC é, como se manifesta e, principalmente, de quais abordagens oferecem resultados sustentáveis com base científica.
O que é o TOC?
O TOC é caracterizado pela presença de obsessões, que são pensamentos ou sensações intrusivos, indesejados e recorrentes, e compulsões, que são comportamentos repetitivos ou rituais, visíveis ou mentais, realizados como forma de aliviar a ansiedade causada pelas obsessões.
Esses sintomas costumam ocupar um tempo significativo do dia e interferem em várias áreas da vida: relacionamentos, trabalho, estudos e autoestima. Frequentemente, o sofrimento é agravado pela vergonha, pelo medo de julgamento e pelo atraso na busca por ajuda especializada (Abramowitz & Jacoby, 2015).
TOC tem cura?
A ciência não fala em “cura” no sentido de eliminação definitiva e garantida dos sintomas em 100% dos casos. Isso valeria, por exemplo, para uma infecção que desaparece com antibiótico. No caso de transtornos mentais, é possível ter um tratamento eficaz e uma redução importante dos sintomas, com melhora significativa na forma de viver o dia a dia e na qualidade de vida (Buchholz et al., 2019).
Tanto as diretrizes internacionais de tratamento quanto as evidências científicas mais recentes indicam que o TOC responde muito bem a psicoterapia especializada, especialmente quando baseada em Exposição e Prevenção de Resposta (EPR) e Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) (Twohig et al., 2018).
Essas abordagens ajudam você a:
Reduzir drasticamente as compulsões;
Lidar melhor com pensamentos obsessivos sem precisar combatê-los ou neutralizá-los;
Reconstruir uma vida mais flexível, significativa e alinhada aos próprios valores (Eifert et al., 2009).
E quanto aos medicamentos?
Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) são o tipo de medicamentos mais utilizados no tratamento do TOC. Podem ser indicados por psiquiatras em casos moderados a graves, e muitas vezes são combinados com psicoterapia.
Apesar de nem sempre eliminarem os sintomas por completo, os ISRSs podem facilitar o engajamento no processo terapêutico, tornando a exposição menos difícil e ajudando na redução do ciclo obsessivo-compulsivo.
Recuperação funcional e autonomia
Muitas pessoas conseguem alcançar longos períodos de estabilidade, com sintomas mínimos ou ausentes. Mais do que isso: voltam a viver com autonomia, retomam projetos antigos, criam novos vínculos e aprendem a se relacionar com seus pensamentos de maneira mais saudável (Reid et al., 2017).
Em alguns casos, os sintomas podem reaparecer diante de eventos estressantes, mas isso não invalida o progresso. Assim como acontece com condições crônicas como hipertensão ou diabetes, o TOC pode exigir cuidados contínuos, mas é absolutamente possível viver bem e florescer, mesmo com uma história de TOC.
O que significa “tratamento baseado em evidências”?
Terapias baseadas em evidências são aquelas que passaram por pesquisas clínicas controladas e demonstraram resultados estatisticamente significativos na redução dos sintomas e na melhora da qualidade de vida.
Tanto a EPR quanto a ACT têm um corpo sólido de estudos científicos que comprovam sua eficácia no tratamento do TOC, inclusive em subtipos mais desafiadores, como:
TOC de verificação;
TOC de contaminação;
TOC com escrupulosidade moral ou religiosa;
TOC de relacionamento.
A importância do tratamento especializado
Buscar ajuda com profissionais capacitados faz toda a diferença. A psicoterapia generalista pode não ser suficiente para lidar com as especificidades do TOC e algumas terapias podem até mesmo prejudicar a recuperação.
Um bom tratamento envolve:
Avaliação cuidadosa do histórico e das manifestações do transtorno;
Construção colaborativa de um plano terapêutico;
Exposição gradual e sustentada aos gatilhos;
Abertura para experiências internas difíceis, sem evitá-las;
Acompanhamento contínuo com foco na autonomia do paciente.
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Referências
Abramowitz, J. S., & Jacoby, R. J. (2015). Obsessive-compulsive disorder in adults. Boston: Hogrefe Publishing.
Buchholz, J., Reuman, L., Blakey, S., & Abramowitz, J. (2019). Psychological treatment of obsessive-compulsive disorder: Efficacy, mechanisms and transdiagnostic implications. In L. Fontenelle & M. Yücel (Eds.), A transdiagnostic approach to obsessions, compulsions and related phenomena (pp. 207–216). Cambridge: Cambridge University Press.
Eifert, G. H., Forsyth, J. P., Arch, J., Espejo, E., Keller, M., & Langer, D. (2009). Acceptance and commitment therapy for anxiety disorders: Three case studies exemplifying a unified treatment protocol. Cognitive and Behavioral Practice, 16(3), 368–385. https://doi.org/10.1016/j.cbpra.2009.06.001
Reid, A. M., Garner, L. E., Van Kirk, N., et al. (2017). How willing are you? Willingness as a predictor of change during treatment of adults with obsessive–compulsive disorder. Depression & Anxiety, 34(11), 1057–1064. https://doi.org/10.1002/da.22669
Twohig, M. P., Abramowitz, J. S., Smith, B. M., et al. (2018). Adding acceptance and commitment therapy to exposure and response prevention for obsessive-compulsive disorder: A randomized controlled trial. Behaviour Research and Therapy, 108, 1–9. https://doi.org/10.1016/j.brat.2018.06.004




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